FUNDOS DE INVESTIMENTO COMO CATALISADORES DOS CONSÓRCIOS: ACELERANDO A MOBILIDADE SOCIAL NAS CLASSES C, D E E NO BRASIL

Sumário Executivo

O setor de consórcios passa por uma transformação decisiva. Além de crescer em volume — R$ 378,7 bilhões em créditos comercializados e 11,2 milhões de participantes em 2024 — surge um novo motor: fundos de investimento que compram cotas de grupos em andamento e/ou com baixa liquidez.

Esses fundos injetam recursos diretamente nos grupos, aceleram contemplações e antecipam receitas para administradoras. Com isso, viabilizam o acesso mais rápido de consorciados de baixa renda à “property ladder”, consolidando o consórcio como instrumento potente de inclusão e mobilidade social.

Este relatório mostra como essa nova dinâmica está ampliando o impacto dos consórcios — e por que ela veio para ficar.

1. O contexto: crédito caro, poupança fraca e urgência social

Inflação elevada (IPCA de 4,83%) e juros altos (Selic a 15%) tornaram o crédito tradicional impraticável para boa parte da população. As classes C, D e E enfrentam renda apertada, alto endividamento e, sobretudo, baixa capacidade de poupança.

Segundo dados do Banco Central e do IBGE, a taxa de poupança bruta no Brasil se mantém entre 16% e 17% do PIB, patamar inferior ao de países desenvolvidos e até mesmo emergentes. Na prática, essa baixa taxa reflete a dificuldade de grande parte da população em acumular recursos para dar entrada em financiamentos tradicionais — que muitas vezes exigem até 30% do valor do bem como pagamento inicial.

Nesse cenário, o consórcio ressurge como alternativa acessível: sem juros, com parcelas previsíveis e disciplina financeira embutida. Mas sozinho, o modelo avança em ritmo lento — o que gera frustração e exclui parte dos participantes da realização de seus objetivos.

2. A força (e o limite) da poupança forçada

O consórcio funciona como uma poupança obrigatória: o dinheiro pago mensalmente não pode ser resgatado nem usado para consumo imediato. Para quem não consegue poupar por conta própria, essa é uma das poucas formas viáveis de acumular capital.

O problema: mesmo após pagar 30% do crédito — valor comparável ao necessário para entrada em um financiamento — muitos consorciados ainda não são contemplados. Ficam estagnados, sem acesso ao bem, fora do sistema bancário e frustrados com o produto.

É aqui que entra o papel dos fundos. Quando administradoras se associam a fundos que compram cotas e alimentam o fundo comum, os grupos ganham fôlego. Mais recursos = mais contemplações. O consorciado que pagou em dia e com regularidade tem mais chances de ser contemplado, acessando o bem e rompendo a barreira de entrada que o sistema tradicional impôs.

3. Fundos que aceleram resultados e destravam valor social

Cada vez mais administradoras estão estruturando parcerias com fundos que compram cotas contempladas e antecipam parcelas futuras.

Esses aportes de capital criam liquidez imediata nos grupos, permitindo que o volume disponível no fundo comum cresça — o que viabiliza novas contemplações, inclusive para consorciados que já contribuíram significativamente (por exemplo, 30% ou mais do crédito), mas que ainda aguardam sorteios ou lances viáveis.

Essa liquidez adicional antecipa conquistas: viabiliza o consumo, gera satisfação e reforça a confiança no sistema. O consorciado deixa de esperar passivamente e passa a ter mais chances reais de ser contemplado, sem depender de sorte ou de aporte adicional. É uma aceleração concreta da inclusão econômica.

O efeito direto para o sistema:
- Mais liquidez nos grupos;
- Maturação antecipada;
- Receita adiantada para as administradoras;
- Redução da inadimplência;
- Melhoria da experiência para o consorciado.

Mais que capital, os fundos trazem ritmo e escala — qualificando os grupos e tornando-os mais eficientes.

4. A property ladder, ativada

A “property ladder” é a escada patrimonial que começa com um bem básico — uma moto, um carro, um imóvel modesto — e evolui com o tempo.

Sem acesso ao crédito, milhões ficam fora desse ciclo. O consórcio oferece o primeiro degrau. E com os fundos, esse degrau se torna mais próximo. A escada sobe mais rápido.

Essa combinação ativa o potencial de consumo, amplia o histórico de crédito e abre caminhos de mobilidade econômica. Fundos + consórcio = transformação real, de baixo para cima.

5. A força econômica do setor de consórcios

O consórcio é um dos pilares do planejamento financeiro no Brasil. Seus números falam por si:

Indicador Valor (2024) Variação anual
Créditos comercializados R$ 378,7 bilhões +19,6%
Participantes ativos 11,2 milhões +9,0%
Cotas vendidas 4,49 milhões +7,2%
Contemplações realizadas 1,70 milhão +4,9%
Ativos sob administração R$ 719 bilhões

Com 6,1% do PIB em ativos administrados, o setor tem capilaridade nacional e atinge perfis historicamente fora do sistema bancário. Sua relevância vai além da performance: está na sua capacidade de formar patrimônio de forma acessível e disciplinada.

Conclusão

A baixa capacidade de poupança continua sendo um dos maiores obstáculos para o acesso ao crédito no Brasil. O consórcio surge como uma alternativa sólida, e a entrada dos fundos de investimento potencializa seu impacto.

As parcerias estruturadas entre administradoras e fundos não apenas aceleram o processo de contemplação — elas desbloqueiam o acesso à propriedade para milhões que já estão comprometidos com o grupo, mas ainda aguardam sua vez.

Essa estratégia alia inovação financeira, impacto social e crescimento sustentável. Fundos não substituem o consórcio — eles o fortalecem, atualizam e ampliam sua potência como ferramenta de transformação econômica.

Para as administradoras, é uma forma de melhorar performance, reduzir riscos e antecipar receitas. Para os consorciados, é a oportunidade de realizar sonhos com mais agilidade. Para a economia, é um motor de inclusão produtiva. E para o Brasil, é um passo concreto rumo à democratização da propriedade.